29 de junho de 2010

Rebecca ou David começa a babar: Você é o nosso fantoche

Mesmo não indo mais ao Teatro em Curitiba (pelo motivo já anteriormente explicado do teatro curitibano não existir), tenho agido certeiramente quando resolvo me deslocar para algum espaço cênico.

No dia 26 de Junho de 2010 tive a oportunidade de estar na platéia de "REBECCA ou David começa a babar". E exatamente tudo, tudo me preocupou demais.

Já "conheço" de certa forma alguns trabalhos da Companhia Silenciosa, algumas de suas propostas (ao menos as declaradas), e os considero genialmente perigosos. Para tentar entender o potencial "perigo" desta cia, podemos fazer uma fria análise de seus conceitos expostos no website http://www.companhiasilenciosa.com:
"As pesquisas e criações silenciosas se desenvolvem a partir de vertentes que problematizam ironia, territorialidade, infiltração, presença e metalinguagem, estruturações dramatúrgicas alternativas, fisicalidade e virtualidade, visualidade e espacialidade, coagulação de padrões caducos e incitantes e ativas relações entre arte e audiência. Tópicos recorrentes como relações de poder, afetividade contemporânea, sexualidade, gênero e artificialidade são constantemente revisitados e relativizados. A busca pela eliminação das fronteiras entre arte e vida, propondo, assim, novos olhares e territórios sobre a obra de arte. E ainda, o intenso flerte com linguagens artísticas como artes visuais, performance art, dança, música e artes digitais. "

Só parece complicado, mas na verdade é bem simples. A Companhia Silenciosa tem como proposta intelectual o que a Arte deveria alcançar naturalmente. "As criações silenciosas se desenvolvem a partir de vertentes que problematizam ironia, territorialidade, infiltração etc etc etc" são os motivos e incômodos gerais da população, e qualquer forma de contraposição que surja motivada por estas vertentes encontrará os mesmos temas e designações: "relações de poder, afetividade contemporânea, sexualidade, gênero e artificialidade". Ou seja, a boa e velha recorrência de inspiração, o que todos buscam, temas exageradamente estuprados e decadentes. Mas por algum motivo, isso ainda parece ser novidade.

Por isso REBECCA não me impressiona, mas me preocupa muito.

O que me preocupa são todas as junções incrivelmente calculadas durante a apresentação, como o som que precede a entrada dos atores. Som atormentador e amargurante, capaz de despertar os mais diversos males psíquicos na platéia (não me espantaria nada se David não fosse o único a babar por lá). Exatamente igual a algum experimento de Pavlov por exemplo, fisiologista que tinha grande apreço por disciplina canina, criando ambientes com rigorosos controles de condições (sons que viriam a despertar uma reação previamente condicionada).

A sequência de luzes também possuía grande potencial (notadas no decorrer da peça e não em momento isolado).  Não fossem apenas efeito de impressionismo, seria fantástico ver alguém ao chão sofrendo de epilepsia fotosensiva como nos espetáculos de Marshall Sylver.

As imagens que eram exibidas ao fundo, também ficaram impecáveis (pelo menos segundo o manual de Como Fazer um Curta Experimental, Cult e Pseudo-Intelectual.)

Quanto ao texto... 

REBECCA não possui texto algum e foi genial como o público foi enganado quanto a isso. Pessoas realmente compenetradas. Os "alternativos" da cena ou os que "respiram arte" possivelmente entenderam tudo, menos o que aqueles diálogos interessantíssimos representavam... Nada. O que é um ponto muito interessante também, afinal só posso ver uma mensagem real naquele texto, algo como: "Engulam isso, seus otários, enquanto rimos".

E esta é a grande tacada. Estas pessoas que "entenderam tudo" tiveram o poder de fazer a peça ser maravilhosa (um poder concedido e metricamente controlado). A platéia é realmente subestimada e não percebe, é jogada contra seus próprios podres conceituais e através de todas as técnicas utilizadas no espetáculo é obrigada a engolir. Tudo feito com maestria e sob medida para o público curitibano.

Companhia Silenciosa, genial.


Serviço:

rebecca ou david começa a babar - Teatro Novelas Curitibanas
10 de junho a 11 de julho - 2010 - quinta a domingo às 20h

Um comentário:

Límerson disse...

Tudo feito com maestria e sob medida para o público curitibano.