8 de maio de 2010

Teatro em Curitiba : Límerson, o facho de luz que Curitiba não merece

Há muito tempo o teatro curitibano está em trevas, está perdido. Na verdade, perdido não, pois nunca existiu teatro curitibano (então não poderia se perder), o que nos deixa somente as trevas, tornando as coisas piores ainda.

As eternas tentativas frustradas de Curitiba no perdido rumo do teatro apenas desgastam ano após ano a inépcia artística da região. Porém, estas tentativas não são reais, foram apenas cordialmente denominadas por mim como tentativas. A realidade é que são apenas repetições nada significantes, são atos automáticos de ridicularização própria dos atores e diretores (aqueles mesmos que fazem uma faculdade de quinta categoria ou um cursinho qualquer com know how de fundo de quintal).

Mas como muitos destes artistinhas me dizem por aí, "falar mal é fácil". Bom, então hoje vamos falar bem!


Manifesto Peep Show...

No dia 06 de Maio de 2010 algo foi capaz de me fazer assistir alguma produção teatral novamente (sei que estou sendo ousado em colocar o manifesto no simples patamar de produção teatral).

Já há alguns anos acompanho as produções de Límerson em Curitiba. E a cada apresentação me surpreendo mais. Límerson adota declaradamente a construção e elaboração de dança idiossincrática e transe pré-hipnótico em seus "espetáculos", e é isso que o torna genialmente singular. 

Todo o simbolismo adotado por ele expressa a condição mais livre do verdadeiro artista que se contrapõe justamente na problemática do transe geral. O transe demonstra não só a dificuldade do próprio autor da desvinculação assim como tentativas repetidas de libertação do que lhe foi embutido desde o nascimento.

Límerson compreendeu que o nascimento não foi um momento perdido em nossas histórias que apenas serviu para nos trazer à sofrível humanidade. Este nascimento acontece o tempo todo como restauração de dores e a morte de desejos e objetivos, é nos colocado então a maiêutica socrática. E isso é demonstrado claramente em Manifesto Peep Show.

Vê-se também que Límerson tenta nos mostrar que as vinculações mais complexas não podem simplesmente ser deixadas sem um breve sofrimento que seja. Já as vinculações mais simples que embutimos a nós mesmos parecem se tornar grandes problemas em nossas vidas (sendo este um parágrafo muito signiticativo do manifesto).

A forma que Límerson adotou na criação de textos, assim como na auto-direção é simplesmente a ideal no que o mundo do teatro pode oferecer. Ele não nos subestima colocando tudo "às claras", como é feito nas inúmeras peças que são a pura comercialdiade do produto teatro. Límerson nos instiga.

Mas Límerson enfrenta (mesmo que com audácia) muitas dificuldades neste meio. Os atores que trabalham com ele não são atores (não estou falando de DRT ou qualquer coisa do gênero que os profissionalize, mas de se saber o que está sendo feito). Salvo o caso de Ricardo Nolasco. Em verdade, Ricardo tem amadurecido muito nos últimos anos na questão "artes cênicas", embora eu ainda não acredite que ele tenha encontrado seu caminho neste meio.

Enquanto Límerson depender de "atores" para realizar suas obras, ele nunca encontrará plenitude nas criações. Não acredito também que Límerson escreva especialmente para teatro, mas vejo que ele poderia explorar diversos outros meios particulares de expressão e criação artística (até porque teatro não é arte).

Sua manifestação "pura" não conta com os mesmos aspectos sujos e porcos dos demais "atores" e "diretores" que atuam em Curitiba. Infelizmente, a pureza da manifestação deve ainda ser colocada entre aspas pelos motivos supracitados da visível falta de existência de gente capacitada intelectualmente para trabalhar com ele.

Curitiba não merece o que Límerson faz, principalmente porque não entende o que Límerson faz.