29 de março de 2010

Incongruência

Faz tempo que eu li uma crônica de Inácio de Loyola Brandão sobre a fábula do homem errado,
e me deu vontade hoje, lembrando do tema do homem que só usava um surrado terno cinza, de enxertar algumas conclusões próprias nestes tempos de cólera, escândalos e pouca vergonha.



Como Loyola, acho que também nasci errado. Nunca sentei na primeira fila da São Paulo Fashion Week. Nunca vi a Juliana Paes de perto (aliás, gostaria que soubessem que eu só acredito naquilo que eu possa tocar e sentir. Por tal motivo, não acredito na Juliana Paes).

O carnaval passou e não recebi nenhum convite para nenhum camarote de nenhuma das cervejas que existem no Brasil (cervejas estas demasiadamente aguadas). Não sou político, não tenho voto para vender, não tenho como negociar minha adesão a este ou aquele projeto de lei. Nunca guardei dinheiro nas meias.

E na Mega-Sena... Dei uma virada e ganhei um torcicolo.

Nunca recebi qualquer restituição do imposto de renda e o Edgard Martov jamais me convidou para visitar a ilha de caras.

E no dia 31 de dezembro eu só saí de casa porque precisava comprar cigarros.

Não namoro nenhuma loura perua que usa sapatos com salto "10". E sei que ela não me ama e não me quer... E nem me chama de baudelaire.
Descobri com a ajuda de Woody Allen que meu grande problema é um desejo intenso de retornar ao útero... qualquer útero.

Nunca soube o que é que a baiana tem. Não desmato a amazônia, não agrido a camada de ozônio e me irrito quando o senador Suplicy completa uma resposta porque ninguém se lembra mais da pergunta.

Sei que quem não deve não teme, mas ando temeroso em começar a dever com estes juros malcriados. E sei também que a democracia é relativa e a corrupção é absoluta.
Nunca vendi nada nos cruzamentos. Não ganhei uma agenda encadernada em qualquer natal. E finalmente, ninguém ainda me convidou para uma patifaria...

mas estou aberto ao diálogo.

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